Durante o grande eclipse solar de 2017, animais de um zoológico surpreenderam pesquisadores da instituição. Durante o evento astronômico, as girafas se juntaram e começaram a galopar, as tartarugas gigantes de Galápagos começaram a acasalar e os gorilas começaram a se preparar para dormir.
Esses comportamentos estranhos foram apenas alguns das diversas anomalias que os cientistas notaram no Zoológico Riverbanks, em Columbia, na Carolina do Sul. Os pesquisadores puderam notar essas “esquisitices” durante o evento solar que aconteceu nos Estados Unidos, segundo um relatório de 2020.
“Girafas são meio delicadas, elas não correm muito”, explicou um dos autores do estudo, Adam Hartstone-Rose, professor de ciências biológicas da Universidade da Carolina do Norte, em Raleigh. “Quando elas correm, é porque estão fugindo de um predator ou algo assim.”
“Foi meio que incrível e impressionante”, ele disse. Os zeladores do zoológico de Nashville em Grassmere também documentaram girafas galopando durante os breves momentos em 2017, quando o céu escureceu no meio do dia.
Com o eclipse solar que ocorre nesta segunda-feira (08), os pesquisadores pretendem complementar o estudo passado em um zoológico diferente. O local escolhido é a faixa do México, Estados Unidos e Canadá que a sombra do sol tocará por 3 ou 4 minutos.
E quem estiver num local que seja possível ver o eclipse poderá ajudar os cientistas a descobrirem os mistérios desses comportamentos estranhos. Com tantas pessoas se preparando para olhar para o céu durante esse evento astronômico, outros podem querer tirar uns minutos para observar as mudanças em seu próprio jardim.
Hartstone-Rose é um dos principais investigadores do Solar Eclipse Safari (Safari do Eclipse Solar, em tradução livre), projeto que quer coletar as observações das pessoas ao longo da faixa que será atingida pelo evento.
Descobrindo os segredos dos animais durante o eclipse solar
Hartstone-Rose planeja levar um time de estudantes e pesquisadores para o Fort Worth Zoo, no Texas, que deve conseguir visualizar o eclipse solar entre 12h22 e 13h01, sendo que o momento total pode ocorrer por quase 2 minutos às 13h40, segundo a Nasa.
Os pesquisadores iram estudar determinados animais para identificar se eles repetem os mesmos comportamentos estranhos. Mas membros do público também podem ajudar na pesquisa.
E pessoas não-cientistas não estarão vendo o evento apenas do zoológico. O projeto de cidadãos pede por observações de todos os tipos de ambientes, incluindo cidades com pombas e esquilos, montanhas, fazendas e mais.
“Podem ocorrer diversos tipos de coisas”, disse Hartstone-Rose. “Nós esperamos que até as crianças que estiverem com seus cachorros de estimação em suas casas vejam esse comportamento interessante durante o eclipse.”
O caminho de cobertura do eclipse será visível em diversos estados do EUA, mas até alguém que não estiver diretamente nesta área poderá visualizará uma porcentagem do Sol sendo coberto pela Lua. Hartstone-Rose está interessado em relatos pela América do Norte para determinar se alguns animais responde até em uma fração de cobertura solar.
“É um projeto que qualquer pessoa em qualquer lugar da área afetada total ou parcialmente pode contribuir com dados ao usar nossos protocolos para ajudar no estudo e nos ajudar a entender mais amplamente como os animais se comportam durante o eclipse”, ele disse.
Mas não é a única maneira que as pessoas podem se envolver na pesquisa científica. Você também pode entrar no Eclipse Soundscapes Project (Projeto de Paisagens Sonoras do Eclipse, em tradução livre), da Agência Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (Nasa). A agência irá coletar observações do público sobre comportamento animal assim como reações humanas ao eclipse através de relatórios multissensoriais por escrito e gravações sonoras do ambiente durante o evento solar.
Os eventos frequentes de eclipse solar permite aos cientistas raras oportunidades de coletar dados sobre respostas comportamentais desse fenômeno, disse Kelsey Perrett, coordenador de comunicação do Eclipse Soundscapes Project. O próximo eclipse solar visível nos Estados Unidos só ocorrerá em agosto de 2044.
Por que os animais reagem ao eclipse?
Relatórios sobre animais agindo de maneira estranha durante um eclipse solar existem há centenas de ano, segundo a Nasa, porque as causas e feitos dos comportamentos ainda não são completamente compreendidos.
Os pesquisadores estudaram 17 espécies durante o eclipse de 2017 e descobriram diversas respostas comportamentais ao eclipse em aproximadamente 75% dos animais dentro do zoológico que observaram, com a maioria realizando hábitos noturnos ou adotando comportamentos que demonstram ansiedade.
Hartstone-Rose acredita que existem dois motivos possíveis pelos quais os animais reagem ao eclipse. A primeira é que os animais estão reagindo à diminuiçã natural de luz e temperatura enquanto o Sol desaparece atrás da Lua. Segundo, os animais podem estar reagindo à reação das pessoas que estão no zoológico durante o eclipse.
A interferência da Lua na luz do dia causada por um eclipse solar total é provável de afetar os animais pelo que conhecemos do ritmo circadiano – o relógio biológico interno que diz a uma pessoa ou animal sobre como responder à quantidade de luz que estão recebendo, segundo o Bryan Pijanowski, professor de recursos naturais e diretor do Centro de Paisagens Sonoras Globais da Universidade de Purdue, em Indiana. Ele não estava envolvido no estudo de 2020.
“A maioria dos animais responde de um jeito que é tipo, ‘ok, hora de sentar e descansar e dormir…’, e então os animais noturnos ficam tipo, ‘oh, é hora de acordar e ser ativo’”, ele disse.
Uma melhor compreensão de como os animais responde ao eclipse inspiram mais pesquisas em como animais, particularmente animais, são afetados por poluição de luz, segundo Pijanowski, que também é parte do conselho de ciência do Soudscapes Projetct.
Como os animais se comportaram durante os últimos eclipses?
O estudo mais consolidado sobre o assunto tem quase 100 anos de idade, quando um time de cientistas liderados por William M. Wheeler coletou quase 500 observações do público. Por exemplo, as pessoas falaram aos pesquisadores durante o eclipse de agosto de 1932 que notaram grilos fazendo barulho como se fosse de noite e abelhas voltando para suas colmeias.
O estudo, publicado em março de 1935, também inclui observações de mamíferos, pássaros e vertebrados de sangue frio.
Cientistas fizeram as observações adicionais que as reações de animais específicos durante os anos ao longo de eventos com eclipse solar, como estudos de que babuínos em cativeiro tiveram aumento em comportamentos de higiene, pelicanos marrons que se empoleiravam, aranhas tecelãs coloniais que desmontaram suas teias e certos anfíbios começando a ficar mais vocais.
Hartstone-Rose planeja ter pesquisadores posicionados perto de girafas para avaliar se o comportamento delas galoparem acontece novamente – e espera que outras pessoas estejam nos zoológicos para o mesmo.
Outros grupos de animais que serão monitorados pelos cientistas são répteis – como tartarugas gigantes pra ver se elas ficarão mais ativas – assim como primatas, como babuínos, que possuem a tendência de ter relações sexuais durante situações de estresse.
Assistir ao eclipse no zoológico
Os pesquisadores terão que estar cientes das limitações de participação do público quando se trata de observar comportamento animal no Fort Worth Zoo neste ano, segundo Hartstone-Rose. Mas ele espera que terão diversas observações de pessoas longe das multidões.
“É a natureza da besta. Eclipses são super animadores. Nós não queremos fazer nada que diminui a animação das pessoas durante o eclipse”, ele disse.
Os cuidadores do zoológico também poderão contribuir com dados ao observar os animais dentro de sua área de atuação, segundo John Griffioen, diretor assistente de programas de conservação do Fort Worth Zoo.
Os animais que gostam de se expressar vocalmente normalmente se comunicam com outros, como elefantes, flamingos e papagaios – e será particularmente interessante observá-los para identificar se o eclipse faz com que esses animais fiquem mais falantes ou mais quietos.
Além deste zoológico, diversas outras instituições anunciaram que terão eventos abertos ao público para que as pessoas possam assistir ao eclipse, incluindo o Zoológico Buffalo, em Nova York; Rock, em Arkansas; Toledo, em Ohio; e o zoológico Indianópolis.
Como ajudar a Nasa nesta pesquisa
O projeto Eclipse Soundscapes começou em outubro do ano passado com o eclipse anular, também conhecido como o “anel de fogo”. Mais de 800 pessoas participaram do projeto, segundo Perrett. A agência espacial está esperando um número bem maior para o eclipse de 2024 – cerca de 2.500 pessoas já se inscreveram, segundo ela.
O estudo de Wheeler de 1935 inspirou o projeto, segundo o site. Os pesquisadores da Nasa estão particularmente interessados em estudar grilos e outros insetos noturnos barulhentos para identificar como eles se comportarão.
O projeto da Nasa está aberto para voluntários. O único fator necessário é que as pessoas estejam pertos de animais ou consigam ter uma visão boa deles, além de conseguir ouvi-los durante o eclipse.
“Se nós tivermos um punhado de pessoas que vão sair e ter a experiência do eclipse desta maneira, nós iremos considerar um sucesso”, disse Perrett em um e-mail à CNN. “Quanto mais, melhor. Quanto mais pessoas participarem, melhor nós poderemos responder nossas perguntas sobre como o eclipse solar impacta a vida na Terra.”
“[Durante um eclipse solar total] você tem tantas maneiras diferentes que a luz está se espalhando, então tem essas variações lindas de laranja, roxo e verde… a velocidade do vento diminui e se torna muito, muito calma. E tudo acontece durante pouquíssimo tempo e ao mesmo tempo”, Pijanowski disse. “É como se fosse uma grande experiência sensorial humana estar no meio de um eclipse solar total.
Fonte: CNN Brasil
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