Um papiro manuscrito em grego identificado como uma cópia do “Evangelho de Tomé”, com relatos sobre a infância de Jesus, foi resgatado e examinado por pesquisadores, incluindo um especialista brasileiro, e teve sua importância histórica reconhecida por universidades europeias.
O documento seria uma cópia do “Evangelho de Tomé”, um livro pseudoepígrafo – um registro de autoria atribuída a algum personagem bíblico e não reconhecido pelo cristianismo como inspirado por Deus – que contém supostos relatos sobre a infância de Jesus. Porém, apesar de sua irrelevância no sentido religioso, possui enorme valor como documento histórico.
O pesquisador brasileiro Gabriel Nocchi Macedo integra o time de especialistas que encontrou o papiro, que era mantido em um depósito da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, e estava esquecido no acervo, sendo considerado irrelevante.
Diante da análise dos papirologistas Lajos Berkes, da Universidade de Humboldt, em Berlim, e o brasileiro Macedo, da Universidade de Liège, na Bélgica, descobriu-se a relevância do fragmento de papiro, e corroborou a tese dos pesquisadores sobre o grego ser o idioma original do “Evangelho de Tomé”.
Com os estudos, descobriu-se que esse manuscrito é a cópia mais antiga do registro pseudoepígrafo. De acordo com Macedo, o manuscrito relata o que teria sido a infância de Jesus e data do século V, registrando um conteúdo que não está na Bíblia Sagrada.
Macedo, que vive na Bélgica há 20 anos e papirologista – ciência que estuda os papiros –, também é professor de papirologia grega e latina do Departamento de Ciências da Antiguidade, da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Liège.
Descoberta histórica
De acordo com informações do Gizmodo, a tradução feita por Lajos Berkes e Macedo é uma “descoberta significativa para o campo da pesquisa”, já que antes da análise desse fragmento de papiro, cientistas acreditavam que a versão mais antiga do “Evangelho de Tomé” seria um códice do século XI.
O professor brasileiro explicou que o papiro descreve um milagre de Jesus durante a infância, que teria dado vida a pássaros de argila. Berkes e Macedo usaram tecnologias recentes para decifrar o idioma do texto no papiro e, posteriormente, compararam com outros textos cristãos do mesmo período.
A descoberta de que não seria um registro qualquer se deu durante o processo de decifrar letra por letra. Os próprios cientistas acreditam que essa cópia teria sido um exercício de escrita em uma escola ou monastério, pois tem caligrafia “desajeitada e as linhas irregulares”.
“Registros assim podem trazer muita informação e contribuir com nosso conhecimento do passado. Todas as fontes, mesmo que ‘menores’ e ‘feias’, podem ser importantes”, resumiu o professor brasileiro.