“Poucos estudos analisaram como a perda de um ente querido em diferentes estágios da vida afeta esses marcadores de DNA, especialmente em amostras de estudo que representam a população dos EUA”, explica Allison Aiello, professora de saúde da longevidade da James S. Jackson e autora principal do estudo, em comunicado à imprensa. “Nosso estudo mostra fortes ligações entre a perda de entes queridos ao longo do curso da vida, da infância à idade adulta, e o envelhecimento biológico mais rápido nos EUA”.
O estudo sugere que o impacto do luto no envelhecimento pode ser visto antes da meia-idade e pode contribuir para disparidades relacionadas à saúde entre grupos raciais e étnicos.
Para chegar às conclusões, os pesquisadores usaram dados do National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health, iniciado em 1994 e 1995. O estudo acompanhou os participantes desde a adolescência até a idade adulta.
Os pesquisadores, então, acompanharam essas pessoas por vários períodos, chamados de “ondas”. Na primeira onda, foram entrevistados 20.745 adolescentes entre 12 e 19 anos. Desde então, eles foram acompanhados ao longo da vida. A quinta onda aconteceu entre 2016 e 2018, com 12.300 entrevistas dos participantes originais.
Na última onda, os participantes foram convidados para um exame domiciliar adicional, em que foram recolhidas amostras de sangue de quase 4.500 participantes para a realização de teste de DNA.
O estudo analisou as perdas sofridas durante a infância e adolescência (até os 18 anos) e na vida adulta (entre 19 e 43 anos). Os pesquisadores também examinaram o número de perdas sofridas durante esse mesmo período. Em seguida, dados de envelhecimento biológico foram avaliados a partir da metilação do DNA do sangue usando relógios epigenéticos.
Segundo a pesquisa, quase 40% dos participantes experimentaram, pelo menos, uma perda de ente querido na vida adulta, entre as idades de 33 e 43 anos. A perda parental foi mais comum na vida adulta (27%) do que na infância e na adolescência (6%). A proporção de participantes que relataram uma perda de ente querido foi maior entre participantes negros (57%) e hispânicos (41%), em comparação com os brancos (34%).
Ainda de acordo com os pesquisadores, pessoas que viveram duas ou mais perdas tinham idades biológicas mais velhas segundo os relógios epigenéticos. Vivenciar duas ou mais perdas na vida adulta mostrou ter uma relação mais forte com o envelhecimento biológico do que uma única perda e do que nenhuma perda.
A idade em que a perda ocorre parece influenciar no envelhecimento
Segundo Aiello, a conexão entre a perda de um ente querido e problemas de saúde ao longo da vida “é bem estabelecida”. “Mas alguns estágios da vida podem ser mais vulneráveis aos riscos de saúde associados à perda e o acúmulo de perdas parece ser um fator significativo”, afirma.
Por exemplo, perder um dos pais ou um irmão na infância pode ser traumático e, consequentemente, aumentar o risco para doenças relacionadas à saúde mental, como depressão e ansiedade, além de problemas cognitivos, maiores riscos de doenças cardíacas e uma maior chance de morte prematura, segundo os pesquisadores. Os riscos também podem ser maiores quando a perda ocorre no início da vida adulta.
Além disso, perdas repetidas podem aumentar o risco de doenças cardíacas, mortalidade e demência, e os impactos podem persistir ou se tornar aparentes muito tempo depois do evento.
“Ainda não entendemos completamente como a perda leva à saúde precária e à mortalidade mais alta, mas o envelhecimento biológico pode ser um mecanismo, conforme sugerido em nosso estudo. Pesquisas futuras devem se concentrar em encontrar maneiras de reduzir perdas desproporcionais entre grupos vulneráveis. Para aqueles que vivenciam a perda, fornecer recursos para lidar e abordar o trauma é essencial”, concluiu Aiello.
Fonte: CNN Brasil
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